segunda-feira, 8 de julho de 2019

[OPINIÃO] – O Sincronicídio – um romance policial de revelações transcendentais!


Olá, Prezado leitor do Cantinho da Traça, que as suas leituras sejam inumeráveis e infindas!

Hoje iniciaremos uma maratona sobre um autor baiano que tem merecido destaque no meio literário nacional. Falo do escritor Fabio Shiva, sobre quem farei três postagens relacionadas ao seu trabalho. 

Nesta primeira, estou republicando uma opinião escrita há alguns anos sobre sua primeira obra publicada, O Sincronicídio. Na segunda, colocarei uma entrevista por escrito que realizei com o autor, na qual ele falará um pouco de temas como processo de escrita, de como chegou à literatura, dentre outros. No último post, postarei uma nova opinião, desta vez sobre sua mais nova obra “Favela Gótica”, lançada pela Editora Verlidelas, em 2019.

Para começarmos a maratona, então, inicio por uma citação que achei excepcional de sua obra O Sincronicídio:

 “Para que o enredo funcione, contudo, resta ainda que alguém se apresente. Esse alguém deve representar, necessariamente, a força igual e contrária à força do herói. É preciso que exista, em resumo, o antagonista. Somente ao enfrentar um adversário é que o herói se justifica” – Fabio Shiva (O Sincronicídio; pág 22).




Com esse início de ouro, que explica bastante a profundidade do autor cuja obra comentarei agora, saúdo mais uma vez todos aqueles que o leram. Sim, pois estou falando de um autor baiano que trouxe para a literatura nacional uma obra prima digna de se tornar uma série ou um filme.

Falo aqui de O Sincronicídio (Editora Caligo, 520 pág), uma obra de puro suspense policial. Não apenas policial, esse é o grande trunfo do livro, mas também filosófico e psicológico.
Mas que obra policial é essa que promete tanto?

Narrado em primeira pessoa, o romance descreve, através da voz do vilão, um dia da atribulada vida do inspetor Alberto Teixeira. Onisciente sobre o que acontece com o protagonista, o narrador vai detalhando os conflitos vividos pelo agente da lei desde questões no trabalho até aquelas inerentes às suas relações com as mulheres, com a precisão de um atirador de elite. E faz isso exatamente porque aquele é o último dia de Alberto, do qual falará da hora que acorda à hora derradeira de sua morte.

E é assim que seu dia como policial se inicia: com uma trovoada, um café da manhã, uma sessão terapêutica com sua psicóloga (e que sessão). E com um caso escatológico de assassinato que envolve um casal em uma banheira cheia de água, resíduos fisiológicos humanos, um livro de Shakespeare e um motel barato de terceira categoria.




Se fosse apenas isso, seria somente mais um dia normal atrás de assassinos. Logo, Alberto percebe que ele e as vítimas estão envolvidos definitivamente na trama mais estranha em que a sua carreira poderia estar atrelada. Uma trama que envolve pessoas próximas a ele e moedas de cobre que quando ligadas às costas de alguém podem produzir os prazeres mais incríveis, as sensações mais genuínas que um ser humano pode experimentar. E também mortes encadeadas em uma sincronia assustadora, sexo, violência e descobertas que atormentariam os mais conceituados criminosos.

Teixeira vai descobrindo que o caso de assassinato aparentemente simples, com repercussões trágicas que se expandem pelo universo, pode estar ligado a fatos do seu passado profissional e, quem sabe, pessoal. Porém, à medida que vai se aprofundando na investigação, percebe que se metera em uma trama que vai além de Rio Santo e de sua vida. Algo muito maior. Algo que abarca o mundo.

Calcado na ideia do I ching e seus 64 hexagramas, com seus significados específicos, associado ao passeio do cavalo pelas 64 casas do tabuleiro de xadrez, sem que se repita nenhuma (o que  põe a ordem numérica dos capítulos segundo o desenrolar dos fatos ligados aos hexagramas  do I Ching), O Sincronicídio traz como diferencial exatamente a mistura entre tema policial, filosofia e religião. Uma mistura tão bem conduzida, tão eloquentemente arquitetada, que mantém a atenção do leitor ligada do começo ao fim de cada capítulo.

Por isso digo que não esperem uma história convencional. Não esperem a mesmice. Shiva conduzirá o leitor dentro do universo policial perpassando por outras temáticas muito interessantes sem fugir da trama, de uma forma que suas emoções serão instigadas e a curiosidade mantida a cada página.




Ele nos traz um pouco da cultura indiana e suas crenças moldando seu fabuloso universo, associando a história a casos verdadeiros de pesquisadores como Jagadish Chandra Bose, C. G. Jung, dentre outros, o que torna o romance verossímil e convincente sem precisar se manter “no caso nosso de cada dia”.

Além disso, Shiva nos traz personagens únicos, quase que dotados de vida própria. Eles criam uma empatia grande no leitor, que fica torcendo para saber o que acontece com cada um, do início ao fim do livro. O que mais gostei, diga-se de passagem, é o narrador da história. É claro.

Para mim esta é a obra mais inovadora do gênero policial de literatura desde O Xangô de Baker Street. O Sincronicídio traz em sua essência mais do que um thriller de tiroteios sem fim, deduções fantásticas tiradas do nada e heróis bonitões que explodem tudo (e ainda ficam com a gatona no final). Pelo contrário, a obra é um profundo mergulho no conhecimento de tecnologias interessantes, histórias verdadeiras de descobridores enevoados pelo preconceito da “ciência” cartesiana, como foi o caso de Jagadish Chandra Bose, dentre outros temas. 

A encadernação é perfeita, de qualidade. A arte final da capa, excelente. A diagramação, digna de grandes elogios. Uma produção respeitável, por fim. Cada capítulo é iniciado com um texto do I ching e é subdividido por textos que sempre se relacionam com o que vai ocorrer naquela cena. Acompanhando os textos, estão os movimentos das peças de xadrez correspondentes ao momento. Uma sacada genial do autor que agregou muito valor à obra.

Sem dúvidas, estou à espera da continuação da história, que nos deixa com o desejo de saber onde isso tudo vai parar.

Ponto para Shiva.
M.M
 

Vídeo de divulgação aqui

Sobre o autor:


FABIO SHIVA é músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (Verlidelas, 2019) e “O Sincronicídio” (Caligo, 2013). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI - Mensageiros do Vento”, primeira ópera rock em desenho animado produzida no Brasil.. Coordenador de diversos projetos culturais em Salvador-BA: Pé de Poesia, Doce Poesia Doce, Poesia de Botão, P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante), Oficina de Muita Música!, Bahia Canta Paz.


 

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