Olá, Prezado leitor do Cantinho
da Traça, que as suas leituras sejam inumeráveis e infindas!
Hoje iniciaremos uma maratona
sobre um autor baiano que tem merecido destaque no meio literário nacional.
Falo do escritor Fabio Shiva, sobre quem
farei três postagens relacionadas ao seu trabalho.
Nesta primeira, estou
republicando uma opinião escrita há alguns anos sobre sua primeira obra
publicada, O Sincronicídio. Na segunda, colocarei uma entrevista por escrito
que realizei com o autor, na qual ele falará um pouco de temas como processo de
escrita, de como chegou à literatura, dentre outros. No último post, postarei
uma nova opinião, desta vez sobre sua mais nova obra “Favela Gótica”, lançada
pela Editora Verlidelas, em 2019.
Para começarmos a maratona,
então, inicio por uma citação que achei excepcional de sua obra O Sincronicídio:
“Para que o enredo funcione, contudo, resta
ainda que alguém se apresente. Esse alguém deve representar, necessariamente, a
força igual e contrária à força do herói. É preciso que exista, em resumo, o
antagonista. Somente ao enfrentar um adversário é que o herói se justifica”
– Fabio Shiva (O Sincronicídio;
pág 22).
Com esse início de ouro, que
explica bastante a profundidade do autor cuja obra comentarei agora, saúdo mais
uma vez todos aqueles que o leram. Sim, pois estou falando de um autor baiano
que trouxe para a literatura nacional uma obra prima digna de se tornar uma
série ou um filme.
Falo aqui de O
Sincronicídio (Editora Caligo,
520 pág), uma obra de puro suspense policial. Não apenas policial, esse é o
grande trunfo do livro, mas também filosófico e psicológico.
Mas que obra policial é essa que
promete tanto?
Narrado em primeira pessoa, o
romance descreve, através da voz do vilão, um dia da atribulada vida do
inspetor Alberto Teixeira. Onisciente sobre o que acontece com o protagonista, o
narrador vai detalhando os conflitos vividos pelo agente da lei desde questões
no trabalho até aquelas inerentes às suas relações com as mulheres, com a
precisão de um atirador de elite. E faz isso exatamente porque aquele é o
último dia de Alberto, do qual falará da hora que acorda à hora derradeira de
sua morte.
E é assim que seu dia como
policial se inicia: com uma trovoada, um café da manhã, uma sessão terapêutica
com sua psicóloga (e que sessão). E com um caso escatológico de assassinato que
envolve um casal em uma banheira cheia de água, resíduos fisiológicos humanos,
um livro de Shakespeare e um motel barato de terceira categoria.
Se fosse apenas isso,
seria somente mais um dia normal atrás de assassinos. Logo, Alberto percebe que
ele e as vítimas estão envolvidos definitivamente na trama mais estranha em que
a sua carreira poderia estar atrelada. Uma trama que envolve pessoas próximas a
ele e moedas de cobre que quando ligadas às costas de alguém podem produzir os
prazeres mais incríveis, as sensações mais genuínas que um ser humano pode
experimentar. E também mortes encadeadas em uma sincronia assustadora, sexo,
violência e descobertas que atormentariam os mais conceituados criminosos.
Teixeira vai descobrindo que o caso
de assassinato aparentemente simples, com repercussões trágicas que se expandem
pelo universo, pode estar ligado a fatos do seu passado profissional e, quem
sabe, pessoal. Porém, à medida que vai se aprofundando na investigação, percebe
que se metera em uma trama que vai além de Rio Santo e de sua vida. Algo muito
maior. Algo que abarca o mundo.
Calcado na ideia do I ching e
seus 64 hexagramas, com seus significados específicos, associado ao passeio do
cavalo pelas 64 casas do tabuleiro de xadrez, sem que se repita nenhuma (o
que põe a ordem numérica dos capítulos segundo o desenrolar dos fatos
ligados aos hexagramas do I Ching), O
Sincronicídio traz como diferencial exatamente a mistura entre tema
policial, filosofia e religião. Uma mistura tão bem conduzida, tão
eloquentemente arquitetada, que mantém a atenção do leitor ligada do começo ao
fim de cada capítulo.
Por isso digo que não esperem
uma história convencional. Não esperem a mesmice. Shiva conduzirá o leitor
dentro do universo policial perpassando por outras temáticas muito interessantes
sem fugir da trama, de uma forma que suas emoções serão instigadas e a
curiosidade mantida a cada página.
Ele nos traz um pouco da cultura
indiana e suas crenças moldando seu fabuloso universo, associando a história a
casos verdadeiros de pesquisadores como Jagadish Chandra Bose, C. G. Jung,
dentre outros, o que torna o romance verossímil e convincente sem precisar se
manter “no caso nosso de cada dia”.
Além disso, Shiva nos traz
personagens únicos, quase que dotados de vida própria. Eles criam uma empatia
grande no leitor, que fica torcendo para saber o que acontece com cada um, do
início ao fim do livro. O que mais gostei, diga-se de passagem, é o narrador da
história. É claro.
Para mim esta é a obra mais
inovadora do gênero policial de literatura desde O Xangô de Baker Street. O Sincronicídio traz em
sua essência mais do que um thriller de tiroteios sem fim, deduções fantásticas
tiradas do nada e heróis bonitões que explodem tudo (e ainda ficam com a gatona
no final). Pelo contrário, a obra é um profundo mergulho no conhecimento de
tecnologias interessantes, histórias verdadeiras de descobridores enevoados
pelo preconceito da “ciência” cartesiana, como foi o caso de Jagadish Chandra
Bose, dentre outros temas.
A encadernação é perfeita, de
qualidade. A arte final da capa, excelente. A diagramação, digna de grandes
elogios. Uma produção respeitável, por fim. Cada capítulo é iniciado com um
texto do I ching e é subdividido por textos que sempre se relacionam com o que
vai ocorrer naquela cena. Acompanhando os textos, estão os movimentos das peças
de xadrez correspondentes ao momento. Uma sacada genial do autor que agregou muito
valor à obra.
Sem dúvidas, estou à espera da
continuação da história, que nos deixa com o desejo de saber onde isso tudo vai
parar.
Ponto para Shiva.
M.M
Vídeo de divulgação aqui
Sobre o autor:
FABIO SHIVA é
músico, escritor e produtor cultural. Autor de “Favela Gótica” (Verlidelas,
2019) e “O Sincronicídio” (Caligo, 2013). Coautor e roteirista de “ANUNNAKI -
Mensageiros do Vento”, primeira ópera rock em desenho animado produzida no Brasil..
Coordenador de diversos projetos culturais em Salvador-BA: Pé de Poesia, Doce
Poesia Doce, Poesia de Botão, P.U.L.A. (Passe Um Livro Adiante), Oficina de
Muita Música!, Bahia Canta Paz.
Facebook: https://www.facebook.com/sincronicidio
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