sábado, 6 de julho de 2019

[OPINIÃO] – Meu Pé de Laranja Lima – José Mauro de Vasconcelos



Olá, prezados acompanhantes do Cantinho da Traça, que as lombadas de seus livros lhes sirvam para algo mais do que manter as páginas juntas!

E a frase do dia é: “Não te irrites se te pagarem mal um benefício; antes caíres das nuvens que de um terceiro andar” Machado de Assis.

Hoje estamos aqui para saber de mais um romance clássico de nossa literatura nacional moderna: Meu Pé de Laranja Lima (editora Melhoramentos, 195 páginas, ano 1985), de José Mauro de Vasconcelos, que tem adaptação para televisão e cinema e se trata de um romance autobiográfico.

Capa do filme mais novo
Este livro trata da história de Zezé, que vive aventuras dentro de seu mundo imaginativo e rico, muitas vezes com seu irmão mais novo, Totoca. Ele explora o universo e o vive intensamente como toda criança ingênua. Nessas brincadeiras, Zezé cria amor por uma coisa inusitada: um pé de laranja lima que havia no fundo do quintal de sua casa. E este passa a ser seu melhor brinquedo e amigo, mais até do que Luciano, um morcego que circula na região. 

Mas, como acontece esse amor todo?

É que Zezé e sua família precisaram se mudar para uma casa nova e cada um escolhe uma árvore para ser sua. Totoca escolhe a mangueira, a maior e mais bela de todas. Antônio ficou com o pé de tamarindo. Restou a Zezé o pé de laranja lima ainda "pueril". Com a proposta de crescer junto com o pezinho, Zezé descobre que a pequena árvore conversa com ele, tornando-se assim sua grande amiga.

Zezé

O livro retrata as aventuras e desventuras de uma criança pobre que vive, junto com sua família, os desatinos sociais a que pessoas como eles estão fadadas. Falta de comida, brinquedos, violência doméstica, problemas educacionais, falta de compreensão e exploração de trabalho infantil: restam-lhe apenas a imaginação como meio para a fuga de tão crua realidade. Surge então esse amigo silencioso, que lhe fala única e exclusivamente, e que o entende nessa fase da vida: o pé de laranja lima.

Ainda há, contudo, algo no mundo que mantém Zezé ligado à realidade. Sua amizade com o portuga, que depois de uma rusga feia tornou-se seu melhor companheiro, mantém-se como uma âncora fixando Zezé no enfrentamento da vida crua. Como um segundo pai, talvez como um tio, ele ajuda o menino a ressignificar o seu contato com o mundo, amenizando os danos da pobreza e ofertando-lhe a companhia que sua própria família não é capaz de lhe dar.

O romance é muito bonito, com toques de humor geniais, uma narrativa leve e associada à capacidade fenomenal que o autor tem de personificar objetos e animais (muito similar à de Terry Pratchett) de maneira curiosa. 

Isso faz o leitor se perguntar: "É tudo imaginação do personagem ou de fato os objetos têm vida?"
O portuga
É claro que sempre podemos entender a questão de maneira metafórica. Podemos dizer que é o indivíduo conversando consigo mesmo ou a contraparte do personagem que o completa e mostra como está seu mundo interior ao leitor. Mas, para mim, o que fica é a magia do diálogo, a forma como o personagem Zezé vive essa relação com seu pé de laranja lima, seja ele o próprio garoto imaginando ou seja ele uma árvore falante. 

O romance é uma boa pedida para quem gosta de histórias leves e fluidas, mas que retratem a dureza da realidade por um ângulo diferente daquele convencional. Boa sugestão para se ler enquanto se lê um livro mais denso em acompanhamento.

Abraço a todos,
MM

O autor: José Mauro de Vasconcelos
Nascido no Rio de Janeiro, em 26/02/1920, e falecido em São Paulo, em 24 de julho de 1984, o autor de família nordestina viveu parte de sua infância em Natal, capital do Rio Grande do Norte. Estudou Medicina ( abandonou), foi carregador de banana, instrutor de boxe  e operário. Produziu obras diversas, sendo as mais conhecidas  "Rosinha Minha Canoa"(1962) e Meu Pé de Laranja Lima (1968). Dentre outras obras estão: “Banana Brava” (1942), “Barro Branco” (1945), seu primeiro sucesso de crítica, “Longe da Terra” (1949), “Vazante” (1951), “Arara Vermelha” (1953), “Arraia de Fogo” (1955), “Doidão” (1963), “Coração de Vidro” (1964), “Rua Descalça” (1969), “O Palácio Japonês” (1969), “Farinha Órfã” (1970), “Chuva Crioula” (1972), “O Veleiro de Cristal” (1973) e “Vamos Aquecer o Sol” (1974). (Fonte:https://www.ebiografia.com/jose_mauro_de_vasconcelos/)



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