terça-feira, 16 de julho de 2019

[LITERATURA] – O que é escrever bem para você?

Olá, acompanhantes do Cantinho da Traça, estou aqui para mais uma postagem sobre Literatura.

Hoje quero falar um pouco sobre o que acredito que seja escrever bem. 

Outro dia, participei de três vídeos produzidos pelo site Mudo Escrito, cada um com uma pergunta sendo respondida. Algo em torno de onze autores responderam cada questão em aproximadamente trinta segundos. Uma das perguntas foi exatamente a do título deste post.

Problema polêmico, acredito. Porque escrever bem, apesar de ter o amparo de toda a técnica possível (e deve ter), ainda é para mim uma questão subjetiva e muito relativa. Isso porque há dois pontos de vista: o de quem produz o texto e o de quem o lê.

No vídeo, a transcrição do que respondi saiu assim:

"Escrever bem, para mim, é ser mais do que meramente técnico. A técnica precisa ser conhecida, mas o autor precisa colocar as suas vísceras, a sua alma; precisa colocar a sua emoção naquele texto – e não estar defendendo argumentos, não estar defendendo ideias que ele, de fato, não acredita. Então, escrever bem é, antes de tudo, ser honesto com o leitor." (fonte: https://www.facebook.com/watch/?v=2342982599306243)




Sou psicólogo, e uma das coisas que mais vi na Universidade foi o fato de que a percepção de uma pessoa sobre alguma coisa não necessariamente corresponderá à visão de outro indivíduo. A subjetividade precisa ser respeitada, porque o que estrutura a percepção, os gostos, as formas como se vivencia uma experiência, varia muito de pessoa a pessoa. Isso tem a ver com muitos fatores, dentre eles os sociais, culturais, familiares, ambientais.

A técnica para um escritor é muito importante, e não acho que se deva abrir mão de seu estudo e aprimoramento constante. Sou meio a rodaniano nesse aspecto (Auguste Rodin acreditava que uma obra nunca está acabada, de forma que  sua arte sempre tinha um quê de incompletude, de inacabado). Com ela, podemos tornar os textos mais belos, mais estéticos, mais aceitáveis e compreensíveis. Podemos conferir mais impacto a eles.

Entretanto, discordo do argumento que escrever limite-se ou dependa exclusivamente disso. Já li textos excelentemente técnicos, belíssimos, muito bem escritos, mas sem alma, sem essência do autor (falo, no caso, de uma mutilação dessa essência, uma impressão de que o autor deixou de colocar algo ali porque a técnica, ou o uso compulsivo dela, de alguma forma o proibiu, ou ele achou que o proibiu).

Tenho visto um bocado de gente vomitando regras de que se deve fazer isso ou aquilo, de que se deve escrever isso e não aquilo. Professam "regras" calcadas naquilo que eles(as) mesmos(as) acreditam que é certo e tomam como verdade universal. Se não são seguidos(as) nos mínimos detalhes, ou se o que leem não abarca aquilo que acreditam ou "defendem" (entre aspas porque nem sempre defendem de fato, às vezes fingem que defendem para fazer um bom nome em meio público - tema de outro post futuro, quem sabe). Dessa postura surgem alguns problemas que comentarei em outros posts, mas que nesse momento basta saber que existe.




Muitos têm consciência de que uma técnica é aplicável em alguns momentos e em outros, descartável. Sabem que há limites. E sabem que há algo além da técnica. Nos textos dessas pessoas é possível encontrar muito de sua essência, e menos "mecanicidade".

A meu ver, de simples e imperfeito mortal, as técnicas são apenas  instrumentos, ferramentas que o autor pode usar para que seu trabalho fique melhor, mais profissional. Um bom emprego delas pode tornar um texto inesquecível.

Mas, antes de tudo isso, é preciso colocar-se no texto. E quando falo colocar-se, me refiro a emoção, visceralidade, alma. Há coisas que não podem ser sacrificadas em nome da técnica em um texto literário. Se pego um autor meramente técnico para ler, é bem provável que tenha dificuldades para terminar de explorar a obra dele. Aos meus olhos, explorar um texto meramente técnico é como comer carne seca e sem sal, insosso.

Quando isso é feito, quando se coloca de forma franca, sem usar subterfúgios da técnica para se ocultar, mas utilizando-a para aprimorar a qualidade do texto, ele se torna "honesto" com o leitor. E, a meu ver, faz jus à arte da literária.

Pode parecer um bocado de abobrinha o que escrevi aqui, e talvez seja mesmo. Mas essa é minha forma de ver a produção literária. Não quero delongar aqui, apenas refletir um pouco. Apenas opinar contra qualquer tipo de ditadura metodológica ou discurso inflexível.

Há um lugar para a lógica na literatura. Mas há, também, para o coração. A medida dos dois ingredientes é uma marca especial de cada autor. Se falta, porém, um dos dois, o texto perde a graça aos meus olhos. Tal como carne seca sem sal ou sal sem carne seca.

Grande abraço,

MM



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