segunda-feira, 30 de outubro de 2017

[OPINIÃO] – Páginas do Futuro



Olá, degustadores de papel! Estamos aqui para mais um momento Cantinho da Traça para conversarmos sobre livros.

Hoje vou comentar sobre uma antologia cuja leitura me marcou muito; a autoria pertence a grandes expoentes da literatura nacional. Editada pela Casa da Palavra, com 156 páginas, estou falando de Páginas do Futuro: Contos Brasileiros de Ficção Científica, cuja apresentação e seleção foi realizada por Braulio Tavares, escritor e compositor brasileiro.

A antologia é composta por doze contos de renomados escritores nacionais, a saber: Raquel de Queiroz (“Ma-Hôre”); Ataíde Tartari (“Veja seu futuro”); Joaquim Manuel de Macedo (“O fim do mundo”); Oswald Beresford (“O inimigo gaseificado, ou a vingança do sr. Concreto”); Rubem Fonseca (“O quarto selo – fragmento”); Finisia Fideli (“Exercícios de silêncio”); Fábio Fernandes (“Uma breve história da maquinidade”); Fausto Fawcet (“Vanessa von Chrysler”); André Carneiro (“Do outro lado da janela”); Luiz Bras (“Déjà-vu”); Jerônimo Monteiro (“O copo de cristal”) e Ademir Assunção (“15 minutos”).



Já na apresentação, reconheço, senti o impacto de um texto rico e bastante esclarecedor sobre ficção científica. Se antes não tinha interesse em escrever contos baseados do gênero, fiquei no mínimo com vontade de tentar um dia. É aqui que podemos ver quantas possibilidades existem na ficção científica. Braulio Tavares nos leva a uma viagem breve pela história da FC, fala-nos sobre os autores e produções internacionais, desnuda alguns dos autores nacionais que ora aqui, ora ali, brilharam neste segmento. Por fim, ainda nos presenteia com um resumido panorama do mercado editorial brasileiro, assim como sobre a formação dos autores de FC.

Despois dessa impactante introdução, é a vez dos contos. O primeiro é de Raquel de Queiroz, cujo título é “Ma-Hôre”. Ressalto que a autora já havia me conquistado com seu livro O Quinze (do qual falarei em outro post), mas esse conto me mostrou que não é preciso ser escritor de FC para se produzir uma história envolvente e curiosa. Em “Ma-Hôre”, Raquel de Queiroz nos mostra uma criaturinha (cujo nome é o mesmo do conto) de outro planeta que, ao se encontrar com humanos, se vê envolvida numa viagem a contragosto. O desenrolar da narrativa é envolvente e seu desfecho, no mínimo, curioso.


Em “Veja seu futuro”, Ataíde Tartari brinca com o tempo. Sua ideia de imergir o leitor na possibilidade de viajar para o futuro mexe com uma possibilidade atraente dentro desta temática já batida. Conto curto e sedutor, foi um dos que mais gostei.

Já o conto “O fim do mundo”, de Joaquim Manuel de Macedo, me pareceu mais uma brincadeira do autor. Uma brincadeira de dizer verdades. Apesar de gostar do grande clássico de Macedo (A luneta mágica), este conto já não me atraiu tanto, apesar de sua atmosfera absurda e fantasiosa. Acho mais interessante como uma crítica do que como um conto de ficção científica.

Oswald Beresford, com sua trajetória trágica, me interessou mais do que seu conto. Sempre tenho uma atenção maior às obras dos suicidas. Entretanto, seu conto “O inimigo gaseificado, ou a Vingança do Sr. Concreto” apresenta possibilidades interessantes para quem curte críticas sociais bem mescladas à fantasia. Infelizmente não foi desta vez que Oswald me comprou com sua obra, apesar do final surpreendente de seu texto.




Rubem Fonseca, para mim, foi mais feliz, com “O quarto selo (fragmento)”. Sou admirador de Fonseca e já li obras de sua autoria como A coleira do cão e outros contos, Feliz ano novo (que considero sensacional), Secreções, excreções e desatinos (outro dos meus preferidos); além destes, tenho mais alguns na minha fila de leituras. Tenho o objetivo de ler todas as suas obras antes de morrer, por aí já dá para perceber como respeito o cara. Neste conto, Fonseca mostra que é mais do que um escritor de romances policiais. Com linguagem curta, diálogos rápidos e uma terminologia própria do universo que criou, ele consegue criar um clima cada vez mais tenso, cujo estopim é clássico de seu estilo de produção literária. Para mim, nota dez.

Finisia Fideli, uma das duas únicas mulheres que participaram da seleta, nos prestigia com um conto mais lento, mas não menos interessante: “Exercícios de Silêncio”. Aqui, ela nos envolve em um mundo no qual uma vida de paz e de reencontro consigo mesmo é possível, desde que consigamos nos libertar da dependência do mundo externo (da objetividade, das paixões, apegos, tecnologias etc.) e mergulhemos em nosso próprio mundo interno, onde encontraremos senão autossuficiência, algo próximo a isso. Um conto bem trabalhado e sóbrio.

Já Fábio Fernandes, em “Uma breve história da maquinidade”, acelera o ritmo da antologia e, em um cenário steampunk, insere-nos entre personalidades históricas e fantasiosas clássicas como Viktor Frankenstein, James Watt, Erasmus Darwin, Joseph Priestley entre outros. Essa mistura foi muito feliz, e o conto me surpreendeu pela forma como foi imaginado e escrito. Deixou-me curioso para ler outras obras do autor.





“Vanessa von Chrysler”, de Fausto Fawcet, traz um ritmo ainda mais eletrizante. Sua atmosfera violenta, mas repleta de símbolos, nos conduz a um universo semelhante ao de uma alucinação.

André Carneiro já nos traz, em “Do outro lado da janela”, alguém que se vê cada vez mais absorvido pelo outro lado de seu próprio vazio existencial. De uma mancha cuja causa é desconhecida, o narrador chega a uma inversão de sua própria vida num absurdo final simbólico surpreendente.

Outro conto dos que mais gostei foi o de Luiz Bras, “Déjà-vu”, que pode ser lido tanto do modo tradicional quanto de trás para frente. A tentativa de se colonizar um planeta, chegando a um misterioso templo bem protegido por criaturas mortais, me lembrou muito o filme da década de 1990, Tropa Estelar, cuja premissa muito me agrada. Para mim, o conto é um dos melhores.

Jerônimo Monteiro, com seu conto “O copo de cristal”, também prendeu minha atenção. A ideia do autor foi genuína e a conclusão impactante. A trama se desenvolve a partir de um copo de cristal, capaz de criar imagens tocantes a qualquer um, menos ao seu próprio dono. Perturbador em sua proposta. Foi um dos contos que mais apreciei na coletânea.



Por último, “15 minutos”, de Ademir Assunção. Confesso que entendi menos ainda do que “Vanessa von Chrysler”, mas as imagens criadas pelo texto do autor, e o forte apelo psicodélico, me levaram a tatear pelos conteúdos do inconsciente coletivo.

Com essa breve pincelada pelos contos, espero ter dado a você, leitor, um sabor longínquo do que pode ser aventurar-se pelo tempero nacional da ficção científica. Espero que gostem tanto quanto eu.

Até a próxima,

M.M



Sobre Braulio Tavares: Escritor, poeta, compositor brasileiro, é ainda cronista e organizador das antologias Páginas de Sombra: Contos Fantásticos Brasileiros, Contos Fantásticos no Labirinto de Borges, Freud e O Estranho: Contos Fantásticos do Inconsciente e Contos Obscuros de Edgar Allan Poe, todas publicadas pela Casa da Palavra. Tem autoria sobre as obras A Espinha Dorsal da Memória (1989), A Máquina Voadora (1994), Mundo Fantasmo (1996) e ABC de Ariano Suassuna (2007), dentre outras crônicas, ensaios, traduções e poesias.

Revisão e copidesque: Karen Alvares

sábado, 28 de outubro de 2017

[OPINIÃO] – A Ilha do Tesouro – Robert Louis Stevenson



Olá, caro leitor! Que os segredos escondidos nas páginas lhes tragam alegrias!

Capa inspirada no ilustre ator Tim Curry
Hoje vamos falar de um clássico da literatura mundial. Se você é um degustador de papel e não o conhece, não se preocupe! Nesta humilde e despretensiosa resenha, abordarei uma obra que com certeza você já ouviu falar alguma coisa. E não é porque é um clássico, que é chato. Pelo contrário, este é um dos livros de aventuras mais fantásticos com que já cruzei.

Estou falando de A Ilha do Tesouro, de Robert Louis Stevenson, que possui inúmeras edições, mas, aqui, considerarei a edição da Martin Claret. Stevenson era escocês, natural de Edimburgo, formado em Direito e autor de outras obras-primas clássicas inesquecíveis como O Médico e o Monstro, O Clube do Suicídio, Markhein, dentre outros contos (para saber mais sobre ele, clique aqui). Diante de tamanho sucesso, não há como duvidar da grandeza deste fantástico escritor.

Lançado pela coleção Obra Prima de Cada Autor, o livro, em formato de bolso e ilustrado, possui 249 páginas e traz Jim Hawkins, que também narra a história, um garoto empregado em uma velha estalagem que se vê envolvido na maior aventura de sua vida ao encontrar um mapa do tesouro de um pirata que morrera naquele local. Animado a enriquecer com o ouro do bandido, Jim procura por homens como o Doutor Livesey e Lorde Trelawney para auxiliá-lo nesta empreitada em busca da grande riqueza a ser repartida pelo grupo.

Famoso Tim Curry na versão Muppet
Porém, para uma jornada bem-sucedida, será preciso que um marujo experiente os leve até a ilha. Eles encontram a tripulação do grande Capitão John Silver, o clássico pirata da perna de pau, para levá-los até o tesouro misterioso. No entanto, será durante a viagem que os membros da comitiva irão desvendar o verdadeiro caráter de John Silver. Diante de poucas opções, precisarão agir depressa antes de se tornarem vítimas fatais de sua ingenuidade.

Como já foi dito, o livro é um clássico. Foi nele que li a primeira cena de ação que fez de fato com que eu me sentisse no meio de um tiroteio de mosquetes e garruchas. As batalhas são emocionantes e muito bem descritas, os diálogos interessantes e o roteiro esplêndido. As estratégias utilizadas pelos personagens para se manterem vivos são inteligentes e dignas de um seriado de televisão, como o também incrível Breaking Bad.

Foto emblemática
As ilustrações que acompanham a obra são divertidas e enriquecem a experiência de leitura, trazendo curiosidades sobre navegação, piratas e história, o que não deixa o livro infantil; pelo contrário, oferta ao leitor mais opções para incrementar sua imaginação neste mundo de aventuras no mar.

É neste livro que se constrói a clássica imagem do pirata da perna de pau com o famoso papagaio falante. E esse mesmo estereótipo serviu para várias adaptações do livro no cinema, dentre elas a de Walt Disney, e serviu de inspiração para um sem número de outras histórias como Piratas do Caribe e, certamente, A Ilha da Garganta Cortada, com Geena Davis. Os desenhos animados não ficam de fora, é claro.

O romance já sofreu inúmeras adaptações para o cinema, mostrando todo o potencial épico desta grande obra.

Versão no cinema com Frodo Baggins
Apesar de ser uma história escrita para todas as idades e até mesmo adaptada para o público infantil, A ilha do Tesouro não perde sua profundidade psicológica, nem mesmo sua densidade, que continua explícita através dos intentos e atos de Long John Silver, um personagem memorável.








Até a próxima,
Mogg Mester

Revisão e copidesque: Karen Alvares