domingo, 18 de agosto de 2019

[OPINIÃO] ― Feliz Ano Novo Grupo de Estudos de Jung ― Uma belíssima obra de Rubem Fonseca



Olá, prezado leitor, 

Que o seu ISBN seja mais cumprido e valorizado a cada dia!

E a frase do dia é: “A iminência da morte é uma forte motivação”. Dan Brown.

Hoje estamos aqui para falar de um livro muito legal de um autor brasileiro consagrado: Rubem Fonseca. Sua obra Feliz Ano Novo publicada pela Companhia das Letras, e com 174 páginas de profunda imersão na realidade do cotidiano ―, traz 15 contos bem chocantes de puro clássico brasileiro.

É interessante saber que esta obra prima foi censurada em 1975 pelo Departamento de Polícia Federal, em pleno Regime da Ditadura Militar, e proibida de circular em território nacional até 1989, quando foi reeditada para receber a atenção que merece. Cabe ressaltar que ela marcou minha adolescência e alterou meu gosto por este mestre da literatura que é Fonseca  justamente por carregar em si as cicatrizes de um tempo ao qual nos vemos atualmente ameaçados de retornar sem prazo  para retorno ao progresso. 





Os contos tratam de temas polêmicos e diversos como relacionamento interpessoal, homoafetividade, crimes, ambição, sociopatia (algo cada vez mais pronunciado e evidente na classe média,  com a ascensão do atual governo do país) desigualdade social, dentre outros temas como política, sexo e poder. Neles, Fonseca sempre busca explorar um pouco das características psicológicas humanas com um linguajar calcado na realidade do dia a dia e com a crueza de um jornalista que viveu durante o período mais obscuro da ditadura que dominou nosso país por aproximadamente 21 anos (e talvez o faça pelos próximos tantos anos a partir de agora).

Seus personagens, moldados por um mundo neurótico, aprisionados  em uma lógica perversa e moralmente questionável, trazem marcas de uma sociedade doente em sua psique coletiva, que parece sempre à beira de desabar. A hipocrisia e a dissimulação explodem na cara do leitor ― como em outras antologias  de Fonseca ―, e nos provoca a refletirmos sobre que situação é essa em que vivemos e toleramos viver. Pode ser também entendida como um convite à mudança a partir de uma tomada de consciência do quando nossa sociedade está adoecida em sua coletividade, o que abre margens a governantes dissimulados e vulgares cujo objetivo único é atender os próprios interesses e os de uma classe sustentada/alicerçada na carne daqueles que têm sua voz calada de alguma forma. Não é à toa que a obra parece tão atual e assim se torna ainda mais atrativa , se observarmos o que vem acontecendo no nosso país nos últimos anos. A atmosfera é muito parecida, quase uma profecia do que viria a acontecer 44 anos depois da censura da obra.



O conto que mais me chamou a atenção, e que mais marcou a obra é exatamente aquele que a nomeia: Feliz Ano Novo. Este relata a atividade de um terceto de marginais que na noite de réveillon decidem realizar um assalto em uma casa de ricos. Lá eles praticam estripulias, testam teorias, comem, estupram, se divertem, matam e roubam. É mais uma forma do autor falar de maneira chocante da desigualdade social, da fome, miséria e colocá-los como precursores do crime e, talvez, dos perigos de acesso a armamento pesado. Além disso, está muito próximo com a linguagem e realidade com a qual Fonseca se conflitava frequentemente em sua profissão de jornalista.

Sem dúvida, é um livro interessante, de leitura rápida, que prende a atenção do leitor com contos curtos e que retratam a vida da sociedade brasileira de forma caricata e violenta, como não podia deixar de ser (vide obra de Leandro Karnal "Todos Contra Todos"). 

Em uma época em que se fala de um absurdo desejo de retorno da ditadura, em que as pessoas nem sequer imaginam os horrores a que podem estar expostas, este livro se constitui um bom começo para reflexões.





  É um bom livro para se ler na fila de bancos (onde li metade dele em uma tarde), e para se conhecer um grande autor de obras ilustres como "Agosto" e "A Grande Arte".

M.M.

Sobre o Autor:

José Rubem Fonseca nasceu em Juiz de Fora, em 11 de maio de 1925. Suas atividades literárias abarcam produções como contista, romancista, ensaísta e roteirista brasileiro. Faleceu no Rio de Janeiro, em 15 de abril de 2020. Foi vencedor de prêmios, dentre eles o literário Prêmio Camões, em 2003. Dentre suas obras mais conhecidas estão os romances Agosto, transformado em série pela Globo, e A Grande Arte, as antologias Feliz Ano Novo, Axilas e Outras Histórias Indecorosas, Secreções, Excreções e Desatinos, dentre outros. (Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Rubem_Fonseca)

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