Terry Pratchett
Jamais
vi colocação mais verdadeira. Prattchett, sendo um grande escritor de
livros cômicos que é, é um homem privilegiado por insights incríveis.
Por isso sou fã dele.
No
instante em que ele fala de sonho aqui, ele está falando, para mim, dos
sucessos almejados que todos nós temos em nossas vidas. Ele está
falando do quão presas as pessoas se tornam aos seus sonhos. Até onde
vão para a realização destes e o quanto isso pode ser usado contra
elas mesmas.
Segundo
Zygmunt Bauman, o Gênio do Líquido, grande visionário do panorama de
nossa sociedade pós moderna e inspirador de L.F. Pondé, vivemos em um mundo
em que tudo se tornou fluido, fugidio, fugaz; nossas próprias
identidades já não conseguem ser mais do que uma sombra passageira
dentro desse turbilhão caótico que se tornou o desenvolver-se dentro do
tempo e espaço. Tornamo-nos imediatistas.
Zygmunt Bauman |
Intolerantes para
com a frustração, o fracasso e outras milongas mais, fragilizamo-nos
para a inexorabilidade do mundo. A natureza implacável não aceita fazer
nossas vontades de criança, embora seja obrigada a, por vezes obedecer
alguns intentos. Mas, no final ela leva a melhor.
Nessa
sede pela posse, pelo sucesso, pelo brilho, consumo e prazer,
tornamo-nos também escravos. De nós mesmos. Aí é que entram os sonhos.
Transformamos os nossos sonhos em objetivo mor de nossas vidas, a pedra
guia de nossos atos, e nem sequer paramos para pensar que eles podem
nos conduzir para um abismo.
Foto fantástica |
Claro, com a ilusão de uma
satisfação duradoura, todos tornam-se cegos. O sonho, a partir
daí, vira uma ferramenta perigosa de condução. Ferramenta de que o
capitalismo, o comércio, os aduladores, hipócritas, cínicos e mentirosos
se usam para conseguir vantagens absurdas. Os sonhos perdem seu
contorno inicial e transformam-se em compulsão, direcionada unicamente
para a satisfação final; o orgasmo consumista que nos toma e depois
perde o sentido porque já passou. Virou passado, tralha temporal. O
carro do ano, a mansão, a mulher (ou homem) cobiçados: tudo isso volta a
ser sapo depois do gozo. Vem aquela sensação de "Bem, não era bem
isso que eu imaginei..." e "Meu deus, fiz tudo aquilo por isso?".
Somos então pessoas
manipuladas. Confundidos, sem saber o que é sonho autêntico e o que é
sonho imposto, introduzido em nossas cabeças, cedemos cada vez mais à
ação. Vendemo-nos à realização deles, "a qualquer custo". Somos
autômatos que compram celurares da última geração a cada 2 meses, ou
"comem" uma mulher em cada esquina (ou "dormem" com um homem em cada
esquina). Os horrores de se pagar pelo corpo tornam-se normais; o
fantasma da ética uiva imaterial e esquecido no cemitério de fracassos
onde foi enterrado. O que vale é o agora.
Thimoty
Leary, PhD em Psicologia, Professor da Havard, começou a contracultura. Foi sufocado, asfixiado, por que previu uma verdade perigosa. Os
americanos não suportaram o câncer que eles mesmos criaram e
sustentaram com o intuito de manipular. Leary se voltou contra eles. Ele
criou o movimento da Contracultura, algo que ia de encontro a essa
"manipulação líquida". Fez um vídeo nos orientando (clique aqui
para ver a parte um, o resto você procura no youtube) a fugir desse
estado. Ele veio como um arauto de um tempo que jamais virá.
O
cara foi tão importante e pouco se fala sobre ele e sua batalha. Os
Beatles fizeram a música Come together para Leary. Mas nada
impediu os manipuladores de sufocá-lo.
Timothy Leary - o guru do LSD |
Os
sonhos continuarão nos motivando, sejam eles próprios ou impostos. São o
que mantém a vida suportável dentro de sua "insuportabilidade". Como
ilusões de um por vir, prenunciam o concreto, mas não o garantem. São
etéreos, imateriais. Frágeis como fumaça.
Não são as promessas, porém, aquelas que mais nos seduzem? Não são elas que nos
fazem querer crer, mesmo quando são proferidas levianamente?
Portanto,
sonhemos. Jamais percamos de vista, entretanto, o fato de sermos alvos fáceis
enquanto nos mantemos cegamente no caminho da realização de um sonho.
Persigamo-los cientes de que seremos aliciados. Sempre.
Finalizo o post com o clipe de Come Together, do Beattles, feito para Leary.
Abraço a todos,
Mogg Mester
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