terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

[Periapto da Asfixia] - Sonhos - Quando eles se tornam um pesadelo

"Quando você sabe quais são os sonhos das pessoas, você pode manipulá-las"
                                                                     Terry Pratchett


Jamais vi colocação mais verdadeira. Prattchett, sendo um grande escritor de livros cômicos que é, é um homem privilegiado por insights incríveis. Por isso sou fã dele.

No instante em que ele fala de sonho aqui, ele está falando, para mim, dos sucessos almejados que todos nós temos em nossas vidas. Ele está falando do quão presas as pessoas se tornam aos seus sonhos. Até onde vão para a realização destes e o quanto isso pode ser usado contra elas mesmas.

Segundo Zygmunt Bauman, o Gênio do Líquido, grande visionário do panorama de nossa sociedade pós moderna e inspirador de L.F. Pondé, vivemos em um mundo em que tudo se tornou fluido, fugidio, fugaz; nossas próprias identidades  já não conseguem ser mais do que uma sombra passageira dentro desse turbilhão caótico que se tornou o desenvolver-se dentro do tempo e espaço. Tornamo-nos imediatistas.

Zygmunt Bauman
Intolerantes para com a frustração, o fracasso e outras milongas mais, fragilizamo-nos para a inexorabilidade do mundo. A natureza implacável não aceita fazer nossas vontades de criança, embora seja obrigada a, por vezes obedecer alguns intentos. Mas, no final ela leva a melhor.

Nessa sede pela posse, pelo sucesso, pelo brilho, consumo e prazer, tornamo-nos também escravos. De nós mesmos. Aí é que entram os sonhos. Transformamos os nossos sonhos em objetivo mor de nossas vidas, a pedra guia de nossos atos, e nem sequer paramos para pensar que eles podem nos conduzir para um abismo.

Foto fantástica
Claro, com a ilusão de uma satisfação duradoura, todos tornam-se cegos. O sonho, a partir daí, vira uma ferramenta perigosa de condução. Ferramenta de que o capitalismo, o comércio, os aduladores, hipócritas, cínicos e mentirosos se usam para conseguir vantagens absurdas. Os sonhos perdem seu contorno inicial e transformam-se em compulsão, direcionada unicamente para a satisfação final; o orgasmo consumista que nos toma e depois perde o sentido porque já passou. Virou passado, tralha temporal. O carro do ano, a mansão, a mulher (ou homem) cobiçados: tudo isso volta a ser sapo depois do gozo. Vem aquela sensação de "Bem, não era bem isso que eu imaginei..." e "Meu deus, fiz tudo aquilo por isso?". 

Somos então pessoas manipuladas. Confundidos, sem saber o que é sonho autêntico e o que é sonho imposto, introduzido em nossas cabeças,  cedemos cada vez mais à ação. Vendemo-nos à realização deles, "a qualquer custo". Somos autômatos que compram celurares da última geração a cada 2 meses, ou "comem" uma mulher em cada esquina (ou "dormem" com um homem em cada esquina). Os horrores de se pagar pelo corpo tornam-se normais; o fantasma da ética uiva imaterial e esquecido no cemitério de fracassos onde foi enterrado. O que vale é o agora.

Thimoty Leary, PhD em Psicologia, Professor da Havard, começou a contracultura. Foi sufocado, asfixiado, por que previu uma verdade perigosa. Os americanos não suportaram o câncer que eles mesmos criaram e sustentaram com o intuito de manipular. Leary se voltou contra eles. Ele criou o movimento da Contracultura, algo que ia de encontro a essa "manipulação líquida". Fez um vídeo nos orientando (clique aqui para ver a parte um, o resto você procura no youtube) a fugir desse estado. Ele veio como um arauto de um tempo que jamais virá.

O cara foi tão importante e pouco se fala sobre ele e sua batalha. Os Beatles fizeram a música Come together para Leary. Mas nada impediu os manipuladores de sufocá-lo.

Timothy Leary - o guru do LSD

Os sonhos continuarão nos motivando, sejam eles próprios ou impostos. São o que mantém a vida suportável dentro de sua "insuportabilidade". Como ilusões de um por vir, prenunciam o concreto, mas não o garantem. São etéreos, imateriais. Frágeis como fumaça. 
 
Não são as promessas, porém, aquelas que mais nos seduzem? Não são elas que nos fazem querer crer, mesmo quando são proferidas levianamente?

Portanto, sonhemos. Jamais percamos de vista, entretanto, o  fato de sermos alvos fáceis enquanto nos mantemos cegamente no caminho da realização de um sonho. Persigamo-los cientes de que seremos aliciados. Sempre.


Finalizo o post com o clipe de Come Together, do Beattles, feito para Leary.
Abraço a todos,
Mogg Mester


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