Olá, caros acompanhantes das
aventuras do Cantinho da traça, que as capas de cada livro os
continuem inspirando mais e mais a cada dia.
E a frase do dia é: “Eu acredito na salvação da humanidade, no futuro do
cianureto” – Emil Cioran.
Hoje estamos aqui para falar de
um livro singular: O Retrato, de Gogol (Coleção de 64 páginas, L&PM, livro de bolso),
um dos marcos da literatura Russa do século XIX.
Dividido perfeitamente em 2
partes distintas, o conto começa com o jovem pintor Tchartkov descobrindo um
quadro velho e esquecido, que é comprado por uma pechincha em uma galeria. O
conteúdo da obra de arte é um retrato pintado de um homem com qualidade que o
impressiona a ponto de possuí-lo com o pouco dinheiro que lhe restava para
comer. É que Tchartkov está em dificuldades financeiras e, como artista, busca
a evolução de sua arte, não o enriquecimento.
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O autor |
Já em casa, com o senhorio (dono
do apartamento alugado) em seu pé para despejá-lo por falta de pagamento,
Tchartkov se atém a investigar o retrato que lhe chama a atenção. E descobre o
que foi. E assim sua vida começa a mudar.
Mas, o que chamava a atenção do
pintor para um retrato velho de um velho homem moreno? Que homem misterioso era
esse para ter uma pintura tão viva e tão real?
Os olhos. O olhar. Tão vivos,
tão reais e tão perfeitamente assustadores que começam a perturbá-lo em seus
sonhos.
E não é que isso lhe traz
ganhos? O que você acharia se seu sonho pudesse lhe mostrar onde encontrar
riquezas?
Mas essa riqueza tem um preço: a
arte, a que Tchartkov planejara desenvolver, ficou para trás com a projeção profissional que ele
consegue pintando retratos. Ele se torna famoso a ponto de fogir de seu rumo que,
apesar de mantê-lo pobre, o mantinha um grande artista. Mas, isso, só vai descobrir mais à frente,
de uma maneira terrível.
A segunda parte do livro conta a
origem do quadro e do misterioso homem retratado nele. Uma origem controversa e
questionável para uma sociedade iluminada como a do século 19, que leva ao
conhecimento de uma força primeva e hostil.
Falando de um mal que se
perpetua por gerações, que contamina sorrateiramente o coração das pessoas que
o abrigam, Gogol dá um passo muito interessante neste conto: será a inveja
humana, sua vaidade e seu egoísmo a motivação de suas misérias? Será que vemos
nossa imagem refletida na imagem dos outros? Estaria o diabo nos outros ou em
nós?
Estas são algumas reflexões que
este maravilhoso conto nos traz, mas vocês podem achar muitas outras coisas
nessa história fascinante, que vai além da psicologia humana e mergulha no
fantástico sem pudor.
Ponto para Gogol.
M.M